quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Isabel Rosete, "NÉCTAR", in "ENTRE-CORPOS"

Néctar

«Quero amar o teu corpo nu
Em todos esses pedaços
Que por ti vagueiam des-troçados,
Uni-los e integra-los em mim.

Quero consumir todo o teu néctar
Em cada orgasmo libertado,
Esparso pelos teus interstícios
Já abertos a todas as libertações;

Quero sugar-te as entranhas
Como um animal no cio,
Libidinosamente ansioso,
Insatisfeito pelo desejo intenso
Que, em nada, se consome.

Amo-te por e em todos os teus poros
Por onde transpiras uma sensualidade
Única e irresistível.

És uma tentação permanente!

És a tentação consciente
Que jamais se apaga da minha memória!

És a tentação, lúcida,
De todos os meus desejos e quereres,
Insaciáveis, mergulhados
Neste turbilhão dos instintos
Que sempre me movem
Para dentro de ti,
Onde, então, permaneço
Afagada pelo calor do teu prazer.»

Isabel Rosete, in "ENTRE-CORPOS" 

Sessão de Lançamento do Livro - Reportagem fotográfica - III

Reportagem fotográfica da Sessão de Lançamento do livro: Livraria Bertrand, Fórum Aveiro, 26 de Outubro de 2011.
Grata a todos os presentes.
Isabel Rosete

Os declamadores de "ENTRE-CORPOS" e a Música de Ruben Bettencourt:


Ruben Bettencourt

Sérgio Azeredo

Os "ENTRE-CORPOS" nas suas várias formas

Ana Paula Mabrouk


Ruben Bettencourt

Ana Paula Mabrouk

São Reis

Naia Sardo

Joaninha Ramalheira

A esposa de Manuel António Martins

Sérgio Azeredo

Ana Paula Mabrouk (Ana Amaro)


Eis o Livro

JoãoTomaz Parreira no seu discurso de apresentação do livro

Rita Capucho

Ruben Bettencourt


Ruben Bettencourt por "ENTRE-CORPOS"

Manuel Flores de Carvalho

Rui Tenrreiro Gonçalves

Ruben Bettencourt

Rita Capucho à frente de Rosalina Gomes

José Gerónimo


Manuel António Martins

Fátima


Isabel Rosete

Prefácio de "ENTRE-CORPOS", pelo Poeta Jão Tomaz Parreira

Prefácio de "ENTRE-CORPOS"

A CONTRA-FUTILIDADE DE UMA ANTI-FRANÇOISE SAGAN

            Levados pela citação inicial, da I parte do volume de poemas de Isabel Rosete, do heterónimo pessoano Álvaro de Campos, «De eterno e belo há apenas o sonho (...) A subtileza das sensações inúteis», poderíamos pensar que este «Entre-Corpos» é pura manifestação de poesia platónica.
Nada mais falho na observação desta poiética estruturada, indubitavelmente, no sujeito-objecto do Amor, o Corpo.
A autora escreve estes seus poemas da mesma forma como abordou a fenomenologia das vozes do pensamento, isto é, baseada numa filosofia existencial do amor. E escreve-os com um fio condutor de contra-cultura, isto é, anti-amor fútil, o parecer ser feliz na superfície apenas e no desequilíbrio das relações, que a romancista francesa Françoise Sagan tão bem nos expôs, nos anos 50.
A futilidade não aceita o que Alain de Botton, na outra citação da poeta, refere como a dificuldade em alguém considerar o que é ou quem é o «amor da nossa vida».
A futilidade no amor é o momento, não é a eternidade, tem mesmo rejeição a ser eterna.
Ainda no domínio das citações – hábito salutar da autora quando inicia obra própria –, se o amor começa no sentido da visão, no olhar, nos olhos que os antigos gregos ligaram ao vocábulo «phos» (luz), então passamos das imagens para a obra do coração – como disse Rainer Maria Rilke –, embora culmine por reflectir que «donzela conquistada \ mas nunca amada».
O amor é obra do coração, mas começa nos olhos.
É isto, porém, que inquieta o Ser, os olhos por vezes são fúteis quando apenas se detêm à superfície dos seres e das coisas.
Daí a angústia do Amor, o saber decifrar as profundidades, a ciência do mergulho no profundo.

Inquietude

A angústia do Amor
Irrequieta-me!

Porque a poeta tem uma perspectiva do Amor ligada ao Ser e projecta-a num devir, os «amores ainda não vividos» – como diz no poema de abertura deste livro.
Contudo, a anti-futilidade que no nosso título referenciamos reside no facto, a priori tomado, de que existem amores que podem ser para rejeitar, estes «não vividos» (esta expressão filosófica metida na poética é de duplo sentido, tanto quanto é uma prosopopeia feliz em que o eu-poético fala da sua intimidade existencial). Os essenciais, no fundo, são aqueles amores que a poeta canta em «pathos», quando escreve «sofro pelos que gostaria de viver».
Disse acima que o Amor – os amores-vividos, os não-vividos ainda, os que gostaria de viver – na poesia de Isabel Rosete está intrinsecamente ligado ao Ser, e este verso é a verdade na qual se estrutura essa afirmação:

Quero-os e rejeito-os,
Num só e mesmo instante
De plena inquietude existencial
(o grifo é meu)  

ou nestoutros versos sobre os traços da Vida que passam por nós em cada rosto, em cada corpo, que reflectem amor, tristeza, solidão, felicidade efémera que a poeta qualifica como escassos momentos de prazer ou glória, temos de novo o referente do Ser:

De cada instante existencial
Tão belo ou tão medonho.

Porque, no fundo, este «Entre-Corpos» trata do finito para o infinito, do desejo satisfeito para a decepção noutra maneira de dizer Schopenhauer, do corpo para a alma e deste trânsito metafísico ao contrário, da «psique» para o «soma», e assim a autora pode culminar em posfácio, como um corolário do que apresentou em forma e conteúdo poemático:

«Fala-se de Corpos nesta obra que desce até às entranhas do Sentir. De corpos vivos e de corpos mortos; de corpos decaídos e exaltados; de corpos cansados e embriagados; de corpos em todas as suas formas e estados reais e possíveis.
Também as Almas são, aqui, celebradas: as puras, as impuras, as que transmigram, as que permanecem neste ou naquele lugar sonhado, vivido, projectado, tão intensamente, pela paixão convicta de ser o Tudo, na sua autenticidade iluminatória.»

Daí este seu novo livro de poesia conter «coisas do Amor e da Morte ou da Morte do Amor (que) são, no limite, as mesmas».
A natureza da objectividade com que nos apresenta este livro é a da presentificação do Amor, diz Isabel Rosete que «também o Amor se presentifica, nestas linhas escritas com a minha alma e com o meu corpo, nas suas múltiplas formas ou séquitos de ser, sem ocultar alguma. Amores de todas as cores e de todos os sons. Amores de todos os sabores, tactos ou cheiros (....) Tão-só Amores».
E Amores que vivem e aniquilam ao mesmo tempo, que se transferem para além-Morte e, em consequência, para a Eternidade, não são na feliz concepcionalidade da autora, amores fúteis.
Poesia de Amor de tormenta, que «enleva a Alma \ Atormentada», nunca pode ter esse Amor como sujeito ou objecto poético fútil.
Aqui chegados leiamos Françoise Sagan. O romance ícone «Bonjour Tristesse» onde o amor tem uma concepção psicológica de futilidade, os amores são rápidos, violentos e passageiros. A romancista francesa parte da futilidade, do luxo, da vida fácil, para o contra-senso da tristeza. À parte um amor incestuoso da filha pelo pai, que se descreve no dito romance, o que perpassa é o amor estéril, o egoísmo, onde a frase «amo-te» é uma frivolidade.
O amor demasiado triste, em «Bonjour Tristesse», fazendo a intertextualidade com «Entre-Corpos», torna-se aqui no poemário de Isabel Rosete, o Amor-Existência, com todos os estados que o «Dasein» heideggeriano comporta, porquanto se sublima a trilogia Vida, Amor e Morte.
Para esta última categoria evidenciada de facto, a Morte – o derradeiro problema do Ser -, a poeta define-a com a verdade consabida das limitações do próprio Ser, do «Ser-para-Morte» sempre heideggeriano.
Contudo, poematiza a questão numa prosopopeia em que a alma humana se parece representar com sentidos palpáveis que só o corpo sente e evidencia, as almas não. Isto é, no poema «Grilhões do Corpo» Isabel Rosete fala-nos de uma «Alma Abandonada, / Lançada aos grilhões do corpo», como algo sólido, com forma, manuseável, que se consome na procura «física» da saída do labirinto do Touro de Minos. E perante este longo poema, estamos de novo mergulhados na poesia filosófica da autora, poema estruturado entre indagações em dialéctica subjectiva / objectiva, do onírico (Orfeu, se quisermos), da poética (Novalis) e da própria mitologia (o labirinto de Dédalo).
À poesia pura com que tece os poemas:

«A magia eterna de uma rosa sem espinhos,
Que a morte perpetua na sua morada!»
a autora acrescenta a recorrência de vocábulos do léxico filosófico que vêm a contribuir para, uma vez mais, uma poesia altamente pensada, com veios auríficos da filosofia da existência.  Existência e existencial, Ser, Morte, Amor e des-amores, corpo e alma, corpo sobretudo no plural.
Sem a mínima pretensão de me sobrepor à obra prefaciada, tentação ilegítima de resto, cabe-me apenas salientar aspectos, que para mim funcionaram como pólos de leitura. E um desses foi, sem dúvida, tentar ler hermeneuticamente, a dicotomia corpos e almas.
De facto, termino fazendo a travessia da Europa filosófica do pensamento sobre o Amor, a Metafísica do Amor de Schopenhauer, do século XVIII, para a definição claríssima da Poética do século XX, com Manuel Bandeira.
O filósofo alemão escreveu que importa bem mais a harmonia dos corpos que o acordo das almas, e o poeta brasileiro:

          «Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
          Porque os corpos se entendem, mas as almas não.»

        (c) J.T.Parreira

Sessão de lançamento do livro - Reportagem fotográfica - II

Reportagem fotográfica da Sessão de Lançamento do livro: Livraria Bertrand, Fórum Aveiro, 26 de Outubro de 2011.
Grata a todos os presentes.
Isabel Rosete













Sessão de lançamento do livro - Reportagem fotográfica - I

Reportagem fotográfica da Sessão de Lançamento do livro: Livraria Bertrand, Fórum Aveiro, 26 de Outubro de 2011.
Grata a todos os presentes.
Isabel Rosete







sábado, 5 de novembro de 2011

"POSFÁCIO" do livro, por Isabel Rosete, 06/06/2010

 «Aos outros cabe-lhes o universo;
 A mim, penumbra, o hábito do verso.
Todo o poema, com o tempo, é uma elegia.
Não há outros paraísos que não sejam paraísos perdidos.
A página vive para lá da mão que a escreve.
                                                               Jorge Luís Borges[1]


Fala-se de Corpos nesta obra que desce até às entranhas do Sentir. De corpos vivos e mortos; de corpos decaídos e exaltados; de corpos cansados e embriagados; de corpos em todas as suas formas e estados reais ou possíveis.
Também as Almas são, aqui, celebradas: as puras, as impuras, as que transmigram, as que permanecem neste ou naquele lugar sonhado, vivido, projectado, tão intensamente, pela paixão convicta de ser o Tudo, na sua autenticidade iluminatória.
Almas fora ou dentro dos corpos; almas que transcendem e deixam, por instantes, os corpos suspensos, solitários, entregues a si próprios; almas que os integram, acompanham e animam na leveza ou no peso do Cosmos.
Em momento algum, se defende, no entanto, a dualidade antropológica decretada por Platão na Republica, no Fédon, no Ménon ou em qualquer outro dos célebres diálogos deste pensador binário. Jamais se perspectiva o corpo como cárcere da alma; jamais se concebe a alma como uma forma, co-afim com tantas outras formas ou eidos imateriais, incorpóreos, residentes no mundo inteligível, cujo corpo em que encarnam é mera cópia ou simulacro, completamente desprezível.
É claro que se procuram as essências, a verdade daquilo que é, em detrimento das aparências, das ilusões dos sentidos ou dos sonhos sem fundamento, da verosimilhança ou de qualquer outro modo de pseudo conhecimento da realidade que a torne o que ela não é, que a ludibrie no seu ser próprio. Porém, as essências na sua materialidade, ou espiritualidade – também o podemos admitir – vistas pelos olhos da Razão que perpassam o parecer-ser e desvelam o originário.
Não há fugas ao ver realmente visto; não há fugas ao ouvir que escuta até ao ínfimo nível dos ultra-sons. Também não há fugas ao tacto, ao olfacto ou ao gosto que, em combinação perfeita com a Razão, nos mostram o Mundo, físico e humano, na veracidade do seu ser.
Todos os sentidos, holisticamente conjugados, se revelam como portas e janelas, como aberturas conscientes e racionalizadas, pela crítica, dos múltiplos estados concretos ou prováveis, perfeitamente possíveis – digamo-lo sem reservas – de todos os corpos e de todas as almas.
Há, apenas, estados múltiplos e sequenciais, circunstâncias de comunhão e de separação de corpos e de almas, à semelhança do que acontece com todas as coisas animadas, num misto de realidade e de ficção (mera projecção da realidade), que me movem no pensamento e na escrita.
A Vida e a Morte são, em Entre-Corpos, as etapas efémeras e eternas dos corpos e das almas, unidas ou separadas pelo Amor, esse estádio outro que tanto é Vida como é Morte. Talvez, a Morte seja mais inverosímil do que a Vida e, por conseguinte, a alma perdure, mesmo que o corpo seja ou não um caos ambulante.
Também o Amor se presentifica e entifica, nestas linhas escritas com a minha alma e com o meu corpo, com o meu sangue, nas suas múltiplas formas ou séquitos de ser, sem ocultar alguma. Amores de todas as cores e de todos os sons. Amores de todos os sabores, tactos ou cheiros. Amores sentidos, vividos, sonhados ideados… meus e de todos os outros, passados ou vindouros. Tão-só Amores!
Na trilogia ‑ Vida, Amor e Morte ‑ caminha, esta obra, por entre todos os corpos vivificados ou trucidados pelas almas que os escoltam ou abandonam. Almas e corpos que riem; corpos e almas que choram, que sonham o Mistério e o Milagre que é o Amor; que almejam a Felicidade e a Glória, como formas de aniquilação do sofrimento, inevitável.
Entre-Corpos, coisas do Amor e da Morte ou da Morte do Amor são, a limite, o mesmo. Talvez haja uma paixão desmedida, completamente assoberbada, no Amor e na Morte, que nos descontrole o Espírito, sem volta á sensatez. O racional e o emocional misturam-se num novelo de emaranhados fios, de nós não desatados. Impera um Amor que se gera nas Ideias, mas que solicita, ao mesmo tempo, o corpo para a sua materialização efectiva, porque dele inseparável.
Talvez já não possamos estabelecer a diferenciação específica, rigorosa e absoluta, a partição “clara e distinta”, como diría Descartes – o filósofo por excelência dualista da Época Moderna, das “paixões da alma” que não são jamais as paixões do corpo ‑ entre os múltiplos conceitos que, sob o nome do Amor, se exaltam, se agitam e giram em seu redor: o “desejo”, o “instinto libidinoso”, a “tentação” química, a “carência” do estar só, uma certa “alucinação” que nos impele ao “apetite” e à “provocação” do outro, que esperamos desesperadamente em nós.
Evidencia-se, não obstante, que em qualquer estado em que o Amor e a Morte se apresentem, nada se acata dentro do Eu que, apenas, fervilha e fervilha, sem saber onde está o início, sem saber qual o terminus do seu próprio fim, quer se trate da união consigo, quer da união com o outro.
O impulso à umbilical comunhão dos corpos, cresce numa escala vertiginosa que desatina e não atina em absoluto. Há a inquietude irritante e ardente dos amores não vividos, num intenso enorme, ou numa quase loucura do ser que não é, mas que fustiga e não pára e não se aquieta. Assoma o prazer desejado sem contenção, nem dos músculos, nem das veias, nem das vísceras, nem das células.
O complexo físico-químico que somos revolta-se aquando da junção do Corpo e da Alma, fundidos num desejo só. É o querer que comanda. Um querer que é vontade do outro. Sem o outro não se mantém; sem o outro não sossega.
Infortúnio da Alma, este querer ilimitado, esta Vontade-de-poder que determina os sentires incondicionalmente, porque está acima do Tudo, do Absoluto, do Indeterminado, do Telos de todas as coisas animadas ou inanimadas, porque vai para além da Morte e destrona o efémero?
Ergue-se, num escasso instante, o turbilhão existencial que nos transporta para múltiplos estados outros, jamais cogitados. Instala-se o novo, o inesperado, a súbita palpitação do coração desprevenido emersa pela paixão que, freneticamente, se desenrola sem rumo determinado a priori.
Não há serenidade nos corações dos amantes, na Vida e na Morte, que assim se movem sem qualquer espécie de freios, porque o freio não existe aquando da exaltação dos sentires dispersos, conscientes ou inconscientes Não pode existir, de modo algum. É imperativo que não exista. Se existisse, não seria nem Amor, nem Morte.
O Amor vulcaniza-se pelos meandros da Vida e da Morte e derrama a sua lava, incandescente, em todas as direcções. Não escolhe trilhos. Não tem deliberações. Não está sujeito a pré-determinações. Apenas escorre, flui, goteja, mas nunca se esgota na sua essencialidade. Há sempre um rasto que fica no e para além do Tempo. Move-se, como perfeito dinamite, sempre pronto a explodir em qualquer lugar.
Este descontrolo, nem sempre total, a escrita aclama, qual desabafo que o papel em branco acondiciona, aconchega e, deste modo, tranquiliza o desconforto da Alma e do Corpo que choram, se exaltam ou se preenchem de um prazer ímpar, naturalmente indizível pela objectividade racionalista.

Assim é a Vida. Assim é a Morte. Assim é o Amor.
Assim é o Tempo. Assim é a Eternidade. Assim são os espelhos, côncavos ou convexos, que nos mostram, amiúde, um outro rosto no labirinto dos caminhos que, nem sempre, se bifurcam.
Ainda e sempre o enigma da Esfinge? O erro do nosso estar metafísico que não nos deixa ser Édipo? Ou a ausência da luz do Ser?

“Caminhamos para uma Estrela, nada mais”, “quando, no silêncio da madrugada, o céu pouco a pouco se ilumina no cimo das montanhas…”[2]

Isabel Rosete
Junho de 2010


[1] Jorge Luís Borges, “Os Conjurados”, Difel, pp. 57, 61 e 63
[2] Martin Heidegger, “Questions III”, pp. 21 e 20, Gallimard, 1966 (tradução de Isabel Rosete).

Uma interpretação de "ENTRE-CORPOS", por Gonçalo Rosete

Texto da Contra-capa:

«Há corpos que se atiram contra outros corpos. Uns compulsivamente, outros suavemente. Desse choque, dá-se a transformação da alma-encharcada em alma-fogo. O amor-fogo é fruto desse debater-se intenso entre-corpos. Amor-fogo, amor de Orfeu, que procura a alma-fogo de Eurídice, para a depositar num corpo-quente. Ao debaterem-se, não deixam que a chama-pulsão contida neles, deixe de ser enxuta. Enxuta, porque quente. Quente, porque bom condutor para emocionar.
Estes corpos auto-hesitantes, por vezes, querem e não querem; por outras, amam e não amam o outro corpo. Vivem numa contínua repulsa e proximidade. Mesmo que tencionados um no outro, as almas-fogo, nunca se fundem, nunca se queimam juntas. Fora das almas-fogo, fora dos corpos-quentes, só reside o frio: a morte.»
Gonçalo Rosete

Uma prestação musical muito talentosa, completamente "sui generis", onde a Alma se vai espalhando, desdobrando, pelo dedilhar singular de Ruben Bettencourt, que as cordas da guitarra faz vibrar no seu íntimo e o corpo estremecer e arrepiar, numa certa paixão que vai crescendo e ficando. Nasce o sossego inquietante da Música que nos penetra os poros.
Obrigada Ruben, pelos dois momentos musicais tão prazerosos que nos proporcionaste.
Isabel Rosete,
01/11/2011
Notas sobre a escrita de “ENTRE-CORPOS”, por Isabel Rosete
1.    Eleva-se o Dizer que o Sentir comanda. Não há limitações para o Verbo que vivifica cada corpo, que ilumina cada alma, que nos faz estremecer de corpo e alma, porque mostra o íntimo autêntico, transparente, do ser que somos, para além da Hipocrisia, do Preconceito, das Máscaras que o Social nos quer impor em nome de um "correcto" que castra a Identidade;
2.    Agarro as palavras, escritas e ditas, com a mão fechada, com uma força imensa (aquele que sempre me move em todas as situações da minha vida), para logo a abrir e as doar a todos a quem passam a pertencer. As palavras, assim sentidas, são o motor do desenvolvimento, do crescimento e da mudança, que sempre urge no escritor e a que se dirige.
3.    O papel é o contínuo resguardo da Memória do que não pode deixar de ser dito. Informo, sempre, os meus futuros leitores das teses que me levam à escrita, como leitora e crítica da minha própria obra, que deixa de ser minha aquando depositada nas suas mãos;
4.       As palavras profundamente pensadas, sentidas e ditas, elevam-se em mim e para além de mim. Assim me comunico e partilho, de corpo e alma sempre unidos, num mesmo estado de combustão com todos os outros.
Isabel Rosete
30/10/2011